segunda-feira, 13 de junho de 2011

2.2 - Entrevista a Renato Póvoas, profissional de Relações Públicas

JR - Como profissional da área o que são para si as Relações Públicas?

RP - Trata-se de uma disciplina que vive dentro do Marketing com o objetivo de construir determinadas perceções sobre marcas ou instituições. É também uma ferramenta estratégica e de ação, ajudando a desenvolver conhecimento para que este possa levar a uma atitude.

JR - Ao longo dos últimos anos como têm evoluído as mesmas em Portugal, e em que pontos poderiam estar mais evoluídas nos dias que correm no nosso país?

RP - Temos assistido a uma enorme evolução nos últimos anos em Portugal e no mundo a diversos níveis:
- Ensino: atualmente existem muitos cursos superiores que formam milhares de alunos todos os anos nesta área da Comunicação e RP;
- Consultoras: o mercado das consultoras de comunicação também cresceu bastante, existindo dezenas de empresas que prestam diversos serviços em regime de outsourcing. A dimensão das estruturas é muito variável (micro, pequena, média e grande dimensão), sendo que o principal player nesta área tem aproximadamente 100 pessoas;
- Empresas: todas as grandes empresas têm um departamento de comunicação na sua estrutura. A dimensão é muito variável, podendo ser de apenas uma pessoa ou um grupo mais alargado. Normalmente recorrem ainda a consultoria externa de uma forma regular ou pontual.

No entanto existem ainda um conjunto de problemas que dificultam a evolução das RP:
- Perceção errada do papel e trabalho destes profissionais;
- Falta de formação dos decisores que não conhecem as potencialidades desta disciplina para ajudar a alavancar marcas e empresas. Seria necessária uma maior componente de RP nos cursos superiores de Marketing, Economia e Gestão;
- Pouca propensão para a inovação em novas ferramentas e canais. Continuam a apostar em ações tradicionais que pouco ou nada resultam no atual paradigma da comunicação;
- A conjuntura atual de crise do mercado que leva ao esmagamento dos orçamentos de marketing das empresas, logo onde a aposta em RP é ainda mais reduzida ou mesmo nenhuma;
- A postura de certos players (consultoras de comunicação) no mercado:
                               - Ganham concursos com orçamentos muito baixos, o que leva a uma má execução do trabalho e obviamente o descontentamento de quem contrata;
                               - Prometerem “mundos e fundos” sem depois terem condições de cumprir (falsas expectativas);
                               - Pessoas com pouca experiência a assegurar tarefas e projetos de elevada responsabilidade.


JR - O facto das Relações Públicas serem uma actividade não regulamentada, altera os seus princípios para um campo mais negativo?

RP - Seria importante ter uma atividade mais regulamentada para que todo o setor e respetivos profissionais fossem mais respeitados e o seu trabalho fosse igualmente mais valorizado. Uma maior regulamentação seria certamente um importante contributo para que as pessoas tivessem uma perceção mais real do trabalho e valor das RP. Não existindo nada a este nível a tendência será sempre para desvalorizar a profissão.


JR - As publi-reportagens, são uma forma visível do comportamento pouco ético das relações públicas. O que acha desta ferramenta das Relações Públicas? E na sua óptica é ou não uma ferramenta pouco ética?

RP - As publi-reportagens podem-se enquadrar dentro das RP ao nível da produção de conteúdos. Não vejo como algo pouco ético pois o trabalho está identificado como tal. Os leitores quando encontram estas informações sabem, ou pelo menos deveriam saber, que é algo pago pela marca aí exposta. Não se tratam de conteúdos jornalísticos. Não nos podemos esquecer que as publi-reportagens foram uma “invenção” dos grupos de media. É mais uma fonte de receita que ajuda a rentabilizar os seus produtos/títulos. Trata-se de um negócio entre os media e as marcas onde as RP apenas entram na produção dos conteúdos. Estão à margem do processo, logo não afeta a credibilidade ou ética dos profissionais de relações públicas.      


JR - Concorda com o facto de que há manipulação legítima e manipulação ilegítima? Ou desde o ponto que se entra no conceito de manipulação será sempre um acto ilegítimo?;

RP - Na minha opinião não existe nenhuma manipulação. Os relações públicas estão sempre ao serviço de uma empresa, marca, pessoa, etc e os jornalistas sabem disso. Não podemos ser ingénuos. Qualquer fonte que entra em contacto com um jornalista defende sempre um interesse ou posição de alguém. As coisas devem estar claras. Caso não estejam o jornalista deverá questionar para perceber quais os reais interesses que estão por detrás.

O principal problema está no jornalista não fazer o seu trabalho – investigar, questionar, comparar fontes, e depois quando percebe que foi manipulado, culpa a sua fonte, que por norma é uma consultora de comunicação. Quem escreve as notícias são jornalistas e os editores é que controlam o que sai e o que não sai. Os relações públicas apenas fazem o seu papel: oferecer informação que possa interessar ao jornalista.


JR - Até que ponto é que o Marketing Político, por vias dos Relações Públicas, consegue transformar uma pessoa desconhecida na opinião pública num vencedor dumas eleições?

RP - As Relações Públicas, embora importante, são somente um ingrediente para o sucesso de um político ou campanha eleitoral. Existem um conjunto de fatores que influenciam esse resultado final. Contudo, se for feito um bom trabalho de RP (estratégia, planeamento, implementação, avaliação, correção de erros ou desvios) a probabilidade das coisas correrem bem é maior. Depois existe também a questão da influência do profissional de RP dentro da equipa de marketing… tem voz e conseguem influenciar o rumo das coisas?!! Ou é apenas um executante que está ao serviço de outros que desconhecem o poder das RP?!!! 
    

JR - Relativamente ao Spinning, o que acha desta área do Marketing Político?

RP - É algo muito relevante não só na área do MKT Político. Faz parte do trabalho de qualquer profissional de RP que por isso deve dominar as suas técnicas. No entanto, por norma, o spinning tem uma conotação negativa, pois está muitas das vezes associada a uma comunicação pouco ética. Eu defendo o spinning enquanto comunicação responsável e transparente, pois caso contrário pode ter um efeito negativo em termos de imagem e reputação para os envolvidos. Mais cedo ou mais tarde a verdade acaba por vir ao de cima…


JR - Finalmente, na sua opinião as Relações Públicas são ou não prejudiciais para a Democracia?

RP - Defendo e acredito que as Relações Públicas podem ter um importante papel ao serviço da Democracia. Elas contribuem para uma população mais esclarecida e próxima das instituições. Sem uma boa política de comunicação não existe partilha de informação com os cidadão e o tal engagement tão vital para uma Democracia saudável. A introdução de novas tecnologias são um bom exemplo disto mesmo. O Facebook, Twitter, blogs,… contribuíram decisivamente para uma maior aproximação e participação das pessoas nas atividades da Democracia. Haja vontade!

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